Como a bomba atômica ajudou a criar a net?
Qui Mar 29, 2012 10:39 am
A notícia é grande então coloquei no spoiler:
Fonte: PPF/Tecmundo
- Spoiler:
Não há dúvidas de que toda guerra é triste e trágica. Isso piora
exponencialmente caso o uso de armas nucleares esteja envolvido. Para
constatar os terríveis efeitos de uma bomba atômica, por exemplo, basta
assistir aos inúmeros documentários existentes sobre as cidades de
Hiroshima e Nagasaki. Porém, também é inegável que muitos avanços
tecnológicos e científicos foram desenvolvidos pela indústria militar,
especialmente a dos Estados Unidos.
Durante os anos 50, a terra do Tio Sam enfrentava um dos momentos
mais tensos de sua história, se preparando para um conflito nuclear com a
União Soviética que poderia matar centenas de milhares de pessoas e
devastar parte da infraestrutura dos países. Para combater essa ameaça,
os conselheiros do então Presidente Harry S. Truman recomendaram aos
Estados Unidos um enorme rearmamento para acabar com a “ameaça
comunista”.
O início da Guerra Fria
Na ocasião, um relatório de 58 páginas descrevia as ações a serem
tomadas pelo país, incluindo a possibilidade de ataques nucleares de
prevenção à URSS. Em 1952, a eleição do novo presidente dos Estados
Unidos, Dwight David Eisenhower, continuou a “aquecer” a Guerra Fria,
ameaçando a URSS de uma “retaliação massiva” caso um ataque fosse feito
aos EUA, independentemente do tipo de armamento utilizado, nuclear ou
comum.
Entretanto, por volta de 1961, o Secretário de Defesa
norte-americano, Robert McNamara, descartou a possibilidade de
retaliação massiva e passou a adotar uma estratégia mais flexível para
reagir aos possíveis ataques da URSS, evitando, por exemplo, que as
cidades soviéticas fossem consideradas como alvos em potencial.
Mísseis poderosos, controles vulneráveis
Ao mesmo tempo, os mísseis nucleares norte-americanos ficavam cada
vez mais precisos e mais rápidos, reduzindo, por exemplo, o lançamento
de um desses projéteis de oito horas para questão de alguns minutos,
graças ao uso de propelentes de estado sólido. Tudo isso estava
devidamente preparado para o caso de um ataque ter que ser feito às
pressas, com a mínima provocação possível do adversário.
Entretanto, o cenário atual das instalações militares gerou uma
preocupação: os mísseis eram potentes e fáceis de serem disparados,
porém, os controles operacionais para que essa ação fosse executada
continuavam tão vulneráveis quanto os de uma década atrás. Em 1963, um
documento secreto enviado para o presidente Kennedy descrevia uma série
de cenários de ataques nucleares que poderiam colocar os EUA em maus
lençóis, incluindo um em que a União Soviética poderia matar de 30 a 150
milhões de pessoas e acabar com até 70% da capacidade industrial do
país.
Com base nesses casos, o documento indicava, também, estratégias que o
presidente deveria usar para reagir às investidas soviéticas e
estabelecer a negociação de cessar-fogo. Entretanto, todas as essas
ações exigiam um método de comunicação confiável e que pudesse
sobreviver a ataques nucleares.
Alternativa aos meios de comunicação da época
A vulnerabilidade dos meios de comunicação e dos controles de mísseis
assombrou os Estados Unidos durante a era nuclear. Uma explosão atômica
na ionosfera, por exemplo, poderia prejudicar toda a comunicação por
ondas de rádio FM durante horas, enquanto que algumas detonações em solo
poderiam derrubar a central telefônica da AT&T.
Em outras palavras, os Estados Unidos precisavam de um meio de
comunicação que permanecesse ativo, para que o contato com as forças de
ataque pudesse ser realizado a qualquer momento e de qualquer local,
mesmo que elas ficassem espalhadas pelo país como uma estratégia de
combate ao ataque do inimigo.
Sendo assim, a RAND, instituição sem fins lucrativos com sede na
Califórnia, foi incumbida de apresentar uma solução para o problema. E o
resultado entregue pela organização foi revolucionário em diversos
aspectos, chegando a guiar os princípios da internet que conhecemos
hoje.
À prova de bombas
Um pesquisador da RAND, Paul Baran, foi o responsável por uma solução
que mudava radicalmente a forma e a natureza da rede de comunicação
nacional. As redes convencionais, até então, possuíam comando e controle
em seu centro e, a partir dele, o contato era estendido para os outros
pontos da rede. Porém, isso era muito arriscado: uma bomba no centro e
tudo pararia de funcionar.
Sendo assim, Baran começou a pensar em uma alternativa para esse
modelo, uma rede distribuída e que trabalhasse com o conceito de
redundância, ou seja, caso uma de suas máquinas falhasse, outra entraria
no lugar dela automaticamente. A inspiração veio das teorias
neurológicas, que tratavam da maneira como o cérebro poderia continuar
operante mesmo após a morte de algumas de suas células.
Entre os detalhes descritos no seu projeto de 1962, intitulado "On
Distributed Communication Networks", estava o fato de que, na rede nova,
uma mensagem não precisava de uma rota pré-definida para seguir. No
modelo novo de comunicação, bastaria preencher os campos remetente e
destinatário e, com base nisso, a mensagem encontraria o melhor caminho
para chegar ao seu destino.
Monitoramento autônomo
Os diversos pontos que formam a rede, chamados de “nodos”, seriam os
responsáveis por monitorar qual a rota mais rápida para cada estação e, a
partir disso, direcionar a mensagem. Além de agilizar a comunicação,
isso também faz com que o sistema possa desviar dos trechos inoperantes
no momento, ou seja, o ataque a uma parte da rede não seria mais uma
amaça.
Além disso, Baran também notou que uma mensagem poderia ser enviada
mais rapidamente caso ela fosse quebrada em pequenos “pacotes” de
informações, que trafegariam independentemente pela rede, reunindo-se no
destino final. Apesar de as ideias serem ótimas, havia um problema:
como isso tudo seria implementado era um verdadeiro enigma, já que a
tecnologia analógica da época não atendia aos requisitos exigidos pelo
projeto.
Para isso, Baran tinha uma proposta radical: unir computação e
comunicação, duas áreas que, para a época, eram consideradas tão
distintas que isso chegou a preocupar o pesquisador.
A implementação das ideias de Baran
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Em 1965, as ideias de Baran foram repassadas, pela RAND, para a Força
Aérea dos Estados Unidos, para que dessem continuidade à pesquisa e
desenvolvimento do projeto. Como é fácil de ter percebido, o projeto já
continha a base da internet que conhecemos hoje. Entretanto, não foi
fácil convencer a AT&T, que detinha o monopólio da rede telefônica
na época, de que seria importante colocar os novos conceitos em prática,
para testá-los.
Como as ideias eram inovadoras demais para aquele tempo, a AT&T
demonstrou muita resistência. Mesmo com experimentos acadêmicos do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em 1965, que conseguiram
realizar a troca de pacotes de dados entre computadores de cidades
diferentes ligados em rede, a telefônica da época não demonstrou
interesse no meio de comunicação digital, mesmo com as estimativas de
que o novo modelo seria muito mais barato de se manter do que o
analógico, cuja manutenção custava cerca de US$ 2 bilhões anuais.
Por essas razões, a AT&T não aceitou a proposta da Força Aérea. A
única alternativa era a Agência de Comunicação de Defesa (DCA), mas
Baran não acreditava que eles estariam interessados. Por não entenderem
muito bem o conceito por trás da comunicação digital, empresas e
organizações não viam o projeto com muito ânimo.
Depois disso, o projeto foi arquivado. Foi só em 1969, quando a
Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA) começou a
desenvolver um projeto de terminais interconectados com o propósito de
compartilhar recursos computacionais, o material desenvolvido por Paul
Baran foi uma das fontes consultadas. Assim, podemos dizer que a
resistência da troca de pacotes de dados que temos hoje na internet se
deve, em grande parte, a uma pesquisa iniciada para desenvolver uma rede
capaz de sobreviver a um ataque nuclear.
E como se não bastasse, Paul Baran, que faleceu em março de 2011,
também está entre os criadores de outra invenção muito útil nos dias de
hoje: as passagens com detectores de metal usadas em aeroportos do mundo
todo.....Esse é o começo da história adaptada pelo site [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]
e contada por Johnny Ryan no livro “A History of the Internet and the
Digital Future”. Infelizmente, a obra ainda não foi lançada no Brasil.
Para saber um pouco mais sobre o desenvolvimento da internet, não deixe
de conferir os infográficos sobre a história da internet [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link] e [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link]. Além disso, para complementar ainda mais o assunto abordado, há um artigo especial sobre a [Tens de ter uma conta e sessão iniciada para poderes visualizar este link].
Fonte: PPF/Tecmundo
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